Não sei se acontece com vocês, mas toda vez que penso em rádio me vem a imagem de um aparelho vintage e minha memória afetiva me lembra o cheirinho de casa de vó.
Claro que os rádios deste tempo já foram substituídos por aparelhos muito menores, mais modernos e portáteis, mas o fato é que o rádio, a despeito de várias teorias da conspiração que decretavam seu fim (quando surgiu a televisão, principalmente), sobreviveu e se reinventou na era da internet.
A digitalização das rádios ampliou o seu alcance e trouxe de volta uma audiência conectada em fones de ouvido pelos celulares, computadores ou outros devices.
EM QUALQUER LUGAR
Fui dar uma olhada no que o IBOPE diz, hoje, sobre este meio de comunicação e fiquei surpresa.
- 83% da população, no perfil da amostra que eles pesquisaram em 2019, ouvem rádio.
- 3 a cada 5 o fazem todos os dias
- Cada pessoa passa 4h33min ouvindo rádio por dia
Fonte: Kantar Ibope Media – Inside Radio 2019.
O meio mais utilizado para acessar ainda é o rádio comum, 84%, mas celular e computador já somam 23%. Outros devices têm 4% de penetração (lembrando que uma pessoa pode ouvir rádio em mais de um suporte, por isso dá mais de 100%).
E as pessoas ouvem, ao longo de todo o dia, em casa, no trabalho, no carro ou durante um trajeto.
Esteja onde estiver, com uma conexão de internet ou no alcance de uma frequência tradicional, em qualquer horário, as pessoas acessam uma rádio podendo usar vários tipos de devices.
ABRANGÊNCIA E INTIMIDADE
As frequências AM e FM ditaram o alcance das rádios até o surgimento da internet e praticamente cada cidade tinha que ter seu veículo para alcançar os ouvintes. Estando próximo, o tom dessa conversa sempre foi íntimo.
Certamente, a internet impulsionou a difusão da programação das emissoras, mas eu acredito que a sobrevivência do rádio por tantos anos vem dessa conexão com as pessoas. Hoje, no marketing de conteúdo, fala-se muito em estabelecer conversas autênticas com o público e o rádio sempre falou para o “amigo ouvinte” no pé do ouvido. O que vendemos como novidade hoje já está sendo trabalhado de forma intuitiva por radialistas há muitos anos…
NO MUNDO TODO
Minha inspiração para este post veio deste site radio.garden. Você consegue navegar pelo mapa e ouvir rádios do mundo todo.
Eu naveguei um pouco e é muito curioso ouvir outros idiomas, ritmos e perfis de programação.
Gostei mais ainda da apresentação que eles fazem sobre a plataforma:
“By bringing distant voices close, radio connects people and places. From its very beginning, radio signals have crossed borders. Radio makers and listeners have imagined both connecting with distant cultures, as well as re-connecting with people from “home” from thousands of miles away.” Radio Garden allows listeners to tune into live radio across the entire globe.”
“O rádio conecta pessoas e lugares trazendo para perto vozes distantes. Desde o início, os sinais das rádios ultrapassaram fronteiras. Fabricantes de rádio e ouvintes imaginaram conectar-se com culturas distantes, bem como reconectar pessoas, que estão há milhas de distância, com suas casas. Radio Garden permite aos ouvinte sintonizar rádios ao vivo ao redor do mundo todo.“
Para quem fala outro idioma, tem origem familiar em outro país do mundo ou é apenas um curioso sobre outra cultura, esta é uma boa forma de ficar um pouco mais perto.
NOSTALGIA
Quando me formei em direito e decidi que não queria seguir carreira na área jurídica, eu comecei um curso de comunicação social e consegui um estágio em uma rádio local, em Belo Horizonte/MG.
Foi ali que tive o primeiro contato com comunicação e produção cultural. Era um veículo pouco comercial, que tocava músicas do clássico ao contemporâneo, do jazz ao eletrônico. Infelizmente ela não sobreviveu ao modelo de negócio dominado pelas rádios jovens, gospel ou de notícias, mas tenho um carinho especial por este meu momento profissional porque foi ali que me reinventei e iniciei os primeiros passos para minha carreira em comunicação, produção cultural e sustentabilidade.
Nostalgia desse tempo, como de um rádio vintage.
Foto destaque: Victoria Borodinova no Pexels
Foto no texto: Nicholas Githiri no Pexels