É com muita alegria que eu inauguro, aqui no blog, a sessão “Abre Aspas”. Será um espaço para entrevista com algumas pessoas que admiro e que me inspiram.
Na verdade, não sei se posso classificar como entrevista porque decidi me colocar o desafio de fazer uma única pergunta, A PERGUNTA.
Além de estarmos em um tempo que valoriza a brevidade, acredito que pensar em uma pergunta só também é um exercício de chegar no essencial. No caso, no que eu mais gostaria de saber sobre o processo criativo, carreira, reflexões sobre o trabalho e a vida do meu convidado.
E olha que maravilha! A primeira pessoa que apresentei essa ideia e fiz o convite para inaugurar a sessão foi a Julia Medeiros e ela aceitou gentilmente o desafio.
A Julia é escritora, atriz, compositora e gestora cultural e seu primeiro livro, A Avó Amarela (2018), estreou em grande estilo já ganhando diversos prêmios, dentre eles o Prêmio Jabuti (Livro Infantil 2019). A obra também foi selecionada para o catálogo “White Ravens” da Biblioteca Internacional da Juventude de Munique (Internationale Jugendbibliothek) e a Julia (@juliamedeiros) segue falando desse trabalho maravilhoso em lives neste período de quarentena. Vale muito a pena ouvi-la e ler o livro. É muito sensível, como ela, e lindo!
Nós nos conhecemos quando ela já fazia parte do Ponto de Partida, grupo de teatro em que ela atuou por 16 anos. Isso já faz um tempinho, mas recentemente tive o prazer de ter a parceria deles para realizar dois espetáculos comemorativos aos 10 e 15 anos do programa Árvore da Vida, projeto de desenvolvimento social que está sob a minha gestão na FCA – Fiat Chrysler Automóveis, empresa em que trabalho.
Montar um espetáculo é singular, ainda mais para pessoas que, como eu, nunca acompanharam este processo. Nestas duas experiências, tive o privilégio de conviver com pessoas muito especiais e com toda a delicadeza da minha convidada!
E “a pergunta” partiu da minha curiosidade sobre a memória afetiva e processos criativos. Neste breve bate-papo, ela falou sobre a construção de um olhar literário para a vida.
Qual o lugar do afeto e da herança no seu processo criativo?
Julia Medeiros. Despertei muito cedo pra literatura, na infância ainda, e acredito que desde lá venho carregando mais do que o gosto pela escrita, um olhar literário pra vida. Sempre reparei nas palavras, nas construções, na maneira com que as pessoas compõem seu léxico particular dependendo da época, do lugar, das referências culturais, familiares, das escolhas profissionais, das emoções que carregam. Eu diria que da mesma forma que existem observadores de pássaros, há os observadores de linguagem e faço parte do clube. Desde o gesto, o ritmo, a pausa, até o andar, a gargalhada, a maneira de pôr a mesa, de cuidar das unhas, de esquecer as chaves, tudo está à disposição de ser lido. É inevitável buscar esses vestígios em mim ou nos meus. Então eu acho que o lugar dos afetos e da herança na minha escrita está na busca pelos rastros da minha existência, do que compõe a minha linguagem. E talvez no desejo de aprecia-la.
Publicar essa entrevista neste mês de julho de 2020 tem um significado especial. Comemoramos 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente e a obra da Julia tem cheirinho de infância. Uma infância apreciada, que inspiraram o livro e várias personagens.
O acesso à cultura é um direito fundamental garantido a todos e essencial para a forma como a criança se relaciona com o mundo.
Obrigada, Julia, pela sua obra e desejo que nossas crianças possam ter uma infância colorida e que o afeto possa inspirar o caminho de cada uma delas.
Crédito foto destaque: Estúdio WTF
Crédito foto contéudo: Pablo Bertola