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Sustentabilidade

2 de março de 2021

Como podemos fazer melhor?

Ainda no curso da pandemia, agora com um pouco mais de esperança em razão do desenvolvimento da vacina, não tivemos, certamente, o distanciamento necessário para avaliar todos os impactos que este momento causou, mas as tendências estão aí para isso: prever um pouco as mudanças que irão se firmar como o próximo jeito ordinário de fazer as coisas.

No início deste ano, várias instituições e empresas, da Accenture ao Pinterest, lançaram seus relatórios de tendências e muitas delas passam pelos grandes temas disruptivos como trabalho remoto ou uma derivação deste que é o nomandismo digital, rituais de cuidados com a saúde, faça você mesmo, novas organizações a partir do senso de coletivo, empatia, etc.

Trabalho com gestão da sustentabilidade e projetos sociais há mais de 15 anos e lendo todas essas tendências tentei entender um pouco como elas poderiam refletir na agenda das políticas de investimento social privado, relacionamento com a comunidade ou corporate social responsibility, como são tradicionalmente conhecidas as práticas de estruturação de projetos pela iniciativa privada para a promoção do desenvolvimento social.

Essas políticas, em sua maioria, têm um recorte orientado pela atuação territorial das companhias, procurando minimizar o impacto das operações.

Outro recorte bem comum é a atuação social orientada pelo core da empresa, acelerando o desenvolvimento a partir da troca de tecnologias e expertises entre a empresa e a sociedade.

No entanto, esses programas em sua maioria têm um outro ponto em comum: eles foram se constituindo de forma muito autoral. Por mais que muitas temáticas sejam comuns, como educação, conservação ambiental, acesso à tecnologia, é raro ver mais de uma empresa assinando o mesmo projeto, ou seja, convergindo esforços e recursos para o mesmo fim.

Isto, por si só, não pode ser lido como um problema. O objetivo está sendo alcançado, a transformação social é relevante, os resultados são comprovados, mas não podemos sair dessa pandemia sem nos perguntarmos, o que aprendemos e como podemos fazer melhor?

Tivemos vários “bons exemplos” na pandemia, mas para este tema, nosso bom exemplo foi a mobilização enorme das empresas para o mesmo projeto. A causa nos foi imposta e a resposta dada a ela é o grande aprendizado.

O esforço para reparação dos ventiladores pulmonares é um destaque de uma ação coordenada. A expertise de técnicos e engenheiros de vários setores industriais foi colocada à disposição das unidades de saúde para conserto dos equipamentos. Coordenada pelo SENAI, a iniciativa mobilizou empresas, instituições e órgãos de governo e 2,4 mil respiradores foram recuperados para integrar a força-tarefa no combate à Covid-19.

Nos últimos anos, associações empresariais para a melhoria da qualidade na educação do país, proteção ambiental, dentre outras, emergiram e precisamos somar a esta articulação a realização de projetos em co-autoria.

Se o grande indicador de resultado dos projetos sociais está na reputação das empresas, esta estará cada vez mais associada à nossa capacidade de atuação social conjunta.

*Texto originalmente publicado no Jornal O Tempo de 26 de fevereiro de 2021 no Caderno de Opinião