“Lu, foi um prazer trabalhar com você. Você me provou que profundidade não tem a ver com intensidade”.
Recebi essa mensagem de uma colega de trabalho querida que estava se despedindo do time para outra oportunidade profissional. Isso foi em 2006, mais ou menos, e eu iniciava minha transição de carreira para a área de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa.
Sempre fui tímida, discreta e, no início da minha carreira, essas características eram ainda mais marcantes.
Anos depois, já ocupando uma posição de liderança em uma grande empresa, eu ouvi de um gestor, em uma reunião de feedback, que eu precisava “colocar o pau na mesa”, ser mais agressiva, falar alto. Eu saí da sala com a única certeza que jamais alcançaria esse comportamento esperado e continuei focada nas minhas entregas, fazendo um esforço maior que meus colegas homens para demonstrar meus resultados e do meu time.
Na mesma empresa, passei por mais dois gestores e todos eles, todos, me falaram exatamente a mesma frase. Um alívio para mim, que entendi que não absorvi um comportamento esperado que era um contravalor, mas precisei me posicionar depois da última abordagem explicando, delicadamente, que aquela era uma expressão sexista que, se levada a uma interpretação literal não se aplicava à minha condição biológica e, no sentido que esses gestores queriam expressar, não cabia para minha função, que era essencialmente de mediação e articulação com pares e stakeholders externos, incluindo poder público, lideranças de outras empresas e comunidades. Não cabia na minha função uma posição intransigente, de afronta ou grosseira e não era, especialmente, condizente com minha natureza.
Essa tradução de energia masculina não colou em mim e segui minha jornada com delicadeza.
Precisamos abrir espaço para a diversidade, também sob o ponto de vista comportamental. Os códigos de ética e conduta estão aí para apontar limites e as regras de convivência e a cultura empresarial não pode limitar diferenças comportamentais.
A tradução de inclusão precisa abarcar os diferentes jeitos de ser.