UMA FEMINISTA FEMININA

Ela é uma aclamada escritora nigeriana, uma voz pujante na luta contra a discriminação de gênero e, para quebrar mais estereótipos atribuídos às feministas, ela é linda e foi incluída pela revista Vanity Fair, em 2016, na lista de mulheres mais bem vestidas do mundo.

E qual o estranhamento em se falar em beleza, moda e feminismo? 

Em entrevista ao The New York Times, quando assinou uma linha de maquiagem de uma famosa marca de comésticos –  No 7, do grupo Boots – Chimamanda explica que conceitos relacionados ao universo feminino, como beleza e moda,  não são levados a sério em razão de uma cultura que diminui as mulheres.

“Eu acho que é parte de uma imagem maior de um mundo que simplesmente não dá às mulheres o mesmo status que dá aos homens. Há muitos exemplos, e alguns têm consequências mais sérias. Em todo o mundo, há violência contra mulheres, e muitas culturas têm formas de justificá-la ou minimizá-la. Mas eu acho que você pode realmente traçar uma linha entre isso e outros interesses femininos que a cultura diminui.”

Chimamanda Adichie para New York times

Não ser levado a sério significa ser associado a algo menos importante, fútil e muitas vezes reforçando um estereótipo de que a beleza física é mais importante que a capacidade intelectual das mulheres ou pior, que as duas coisas são incompatíveis.

Veja o vídeo da campanha Boost No7

Campanha No7 – Chimamanda Adichie

Mas este ícone fashion, que defende que o conceito de beleza deve ser ampliado, é ainda uma mulher feminista e entende que as mulheres devem ser livres para expressarem sua individualidade, seja no modo como se vestem, se comportam, falam e pensam.

“O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas do gênero.”

Chimamanda adichie – Sejamos todos feministas

FEMINISTA E FEMININA

Ainda hoje, um forte contraponto apresentado por mulheres que se dizem não feministas é afirmar que “não sou feminista, sou feminina”. 

Eu acredito que esta percepção errônea, de que estes dois aspectos não podem conviver, remonta às origens do movimento feminista. Convenci-me disso quando ouvi o podcast Maria Vai com as Outras, com a Rosiska Darcy de Oliveira.

Maria Vai Com as Outras – #10 – Divisão Sexual no Trabalho. 

Rosiska foi uma das fundadoras do feminismo no Brasil e na Suíça. Na entrevista, ela conta das dificuldades enfrentadas para consolidar o movimento por aqui. É comum a movimentos de resistência e que estão questionando o status quo enfrentarem barreiras como perseguição, violência, boicote, mas ela falou de uma peculiaridade, que talvez só o movimento feminista tenha vivido, que foi a ridicularização. 

Na tentativa de desqualificar e esvaziar o movimento, as mulheres feministas eram taxadas de “horrorosas, mal amadas, histéricas, feias, pavorosas, sem senso de humor, taradas”, segundo Rosiska. 

“Enfrentamos o que é mais difícil você enfrentar que é o ridículo: – “Vocês são umas ridículas, mulheres ofuscadas, mulheres que não deram certo.” Era um tratamento muito humilhante, contra mulheres que não eram nada disso. Nós éramos mulheres muito bem sucedidas.”

Rosiska Darcy de oliviera – para o maria vai com as oursa

Felizmente, estas pioneiras foram corajosas, conseguiram consolidar a causa e conquistar muitos direitos que hoje, nós mulheres, usufruímos.

Se quiser ouvir o podcast completo eu super recomendo. 

Deixo o conteúdo abaixo:

Rosiska Darcy de Oliveira

QUEBRA DE ESTEREÓTIPOS

Em um recente vídeo para a revista Marie Claire, Chimamanda ainda ajuda a quebrar outros estereótipos sobre as mulheres feministas. Ela comenta outras frases de mulheres que se dizem anti-feministas:

“- Eu não sou feminista, eu sou feminina.”

“- Eu não preciso do feminismo porque quero me casar e ter filhos.”

“- Por que elas não evitam o aborto ao invés de matar bebês?

“- Não se depilar é ridículo e nojento. Isso não é empoderamento

Ela comenta cada uma dessas afirmações no vídeo abaixo:

Vídeo Marie Claire – Chimamanda Adichie

NO MUNDO DA MODA

E se estamos entendidos que ser feminina, gostar de moda e beleza não diminui em nada as mulheres, vamos para a parte fashion.

Eu acompanho a Chimamanda no Instagram @chimamanda_adichie e adoro o modo como ela se veste. Existem inúmeras influenciadoras de moda na rede e, apesar dela não se posicionar assim, entendo que ela faz diferença também ajudando a quebrar paradigmas neste universo fashion pela autenticidade das suas roupas.

Ela é uma mulher africana, negra e veste muitas marcas também africanas, com uma forte influência da cultura local. Em um mundo globalizado em que os grandes nomes que ditam  os rumos da indústria da moda são, em sua maioria, europeus ou americanos, Chimamanda ocupa também este espaço de dar visibilidade a uma moda pouco conhecida e difundida. 

Recentemente, ela lançou o movimento #wearnigerian para incentivar os produtores locais. No Facebook, ela apresentou assim o movimento:

Meu Projeto WEAR NIGERIAN no Instagram

As políticas econômicas desastrosas do governo nigeriano têm levado a uma redução no valor do naira e, consequentemente, na renda líquida, em uma mudança de valores, em uma desorientação na classe média, e acima de tudo, em um senso de incerteza debilitador.

Se tivermos que nos segurarmos a um lado bom, então a retórica ‘Compre Nigeriano para Valorizar o Naira’ é um deles.

Neste espírito, eu recentemente decidi vestir principalmente marcas nigerianas em minhas aparições públicas. (Antes, por sinal, o presidente Buhari declarou dias de ‘vestir roupas Fabricada na Nigéria’.)

Nas últimas semanas, eu comprei mais marcas nigerianas que nunca. Eu descobri novos nomes. Fiquei cheia de admiração pelas mulheres e homens tocando seus negócios apesar dos muitos desafios que eles enfrentam. Estou particularmente interessada nas marcas ‘que olham pra dentro’, aquelas para as quais vestir mulheres nigerianas é tão importante quanto seus outros objetivos.

Eu mudei alguns zíperes malfeitos, me decepcionei com alguns tecidos de baixa qualidade, e estive impressionada com alguns acabamentos com bastante atenção aos detalhes. Em geral, eu amo as roupas, seus cortes, seu capricho, suas cores, seu estilo, sua habilidade de me fazer me sentir eu mesma. Seus criadores, do designer ao alfaiate, do profissional que prega os botões à pessoa que entrega por okada, merecem ser apoiados. Depois da sugestão de minhas sobrinhas muito au fait Chisom e Amaka – que acham que a Titia é um dinossauro ludita hilário (e elas têm razão, infelizmente) – eu agora estou no Instagram em @chimamanda_adichie documentando meu projeto Wear Nigerian.

chimamanda adichie no facebook

#WEARNIGERIAN

Pesquisei algumas marcas que ela divulgou recentemente no perfil do Instagram @chimamanda_adichie e deixo aqui os links.

THE LADY MAKER @the_ladymaker https://the-ladymaker.myshopify.com

NEEDLE POINT WOMAN @needlepointwoman

ZOHI TAGLIT @zohi_taglit

HOUSE OF FARRAH @houseoffarrah

THE FIA FACTORY @thefiafactory www.fiafactory.com

NKWO DESIGN @nkwo_official www.nkwo.design/

THE MUSE FACTORY 5 @themusefactory_ https://themusefactory5.wixsite.com/themusefactory

MEENA @meenaofficial www.meenanigeria.com/

A indústria da moda ainda enfrenta desafios no que se refere a aspectos de sustentabilidade, consumo e produção responsáveis, mas o incentivo ao produto local é uma forma de minimizar impactos nesta cadeia de valor.

SEJAMOS O QUE QUISERMOS

O feminismo tem a ver com defesa de direitos e com o entendimento de que as mulheres possam se expressar, inclusive com atributos ligados ao feminino ressaltando sua beleza, auto-estima e inteligência.

“Decidi parar de me desculpar por ser feminina. E quero ser respeitada por minha feminilidade.”

CHIMAMANDA ADICHIE – Sejamos todos feministas

Então, sejamos todas do jeito que quisermos, sejamos todas feministas!

Crédito foto destaque: Campanha No7- Booster