A linguagem é uma manifestação de cada época. Para quem gosta do termo zeitgeist, e eu me incluo na lista, a forma como nos comunicamos é uma expressão do espírito do tempo que vivemos.
O português que conhecemos hoje vem do latim, que misturou com o celta, que sofreu influência do árabe e também do galego, em uma dança que parece a “Quadrilha”, de Carlos Drummond de Andrade.
Eu não sou avessa a estrangeirismos na língua portuguesa ou em qualquer outra. Em um mundo globalizado e com cada vez menos barreiras de comunicação e fronteiras culturais mais diluídas, você introduzir um termo em inglês, italiano ou em qualquer outro idioma na sua forma de comunicar, para mim, não soa arrogante ou excludente, se o interlocutor entende o que você quer dizer.
Também sou afeita aos neologismos. Coisa mais linda “Nonada”, de Guimarães Rosa, a palavra de abertura do meu livro preferido, ou “caetanar”, homenagem linda do Djavan a Caetano Veloso na música Sina. Se os estrangeirismos são vícios de linguagem, como reza nossa gramática, aos neologismos eu atribuo as “virtudes” da linguagem.
Tenho uma coleção dessas virtudes da minha fiha, Helena: Batata Broa (Batata Baroa), Padadeiro (padeiro), Bocambole (Rocambole), Enganástica (falsa) e tantas outras lindezas.
Eu acho toda essa mistura e novas palavras, inevitáveis em um processo natural que representa muito da interação fluida que a evolução dos meios de comunicação proporciona e tem acelerado nos últimos anos.
Pois bem, dito isso, quero contar uma experiência que achei estranhíssima e contradiz toda essa minha tolerância à influência da linguagem e entendimento sobre a ascendência da cultura no nosso modo de comunicar.
Estava eu em um curso on line (em linha seria estranho, você não acha?), com umas 30 pessoas e, em um dado momento, um aluno citou um case (e não caso) de um influenciador digital para ilustrar um tópico da aula.
O professor interrompeu o aluno, antes dele concluir o assunto e perguntou: “- Peraí, qual o arroba dessa pessoa de quem você está falando?” A pergunta foi bem naquele tom, se você contou o milagre, conte também o santo, porque o babado era bom!
Imediatamente me caiu uma ficha gigante de que já estamos substituindo o interesse pelo nome, para conhecer alguém, pela forma como ele se identifica na rede social, o perfil.
Aí, lembrei que só tenho na memória o @ de várias pessoas que acompanho na internet e confesso que nem sei o nome delas ou quando sei, o perfil é preponderante para eu me lembrar delas.
Não tenho ideia como a @joutjout, o @jotxiinha, a camponesa de Betim (@jamais_tolerarei_), o @eusoupintor e outros que aparecem frequentemente no meu feed se chamam. Lembro da Verônica como @faxinaboa, da Vic Ceridono como @diadebeaute e o Vicente Carvalho é o @razoespraacreditar.
Conhecer as pessoas pelo perfil das redes sociais, e não pelo nome, é uma manifestação do nosso tempo, que estamos absorvendo muito naturalmente e me dar conta disso nessa aula, me gerou muito estranhamento.
Não sou saudosista, mas acho que era mais delicado quando perguntávamos diretamente às pessoas – qual a sua graça?
Lembro-me sempre da feição das pessoas, mas não me recordo com facilidade dos nomes, então, ainda costumo perguntar com frequência “qual o seu nome?” e mesmo passando um pouco de vergonha, demonstro meu interesse genuíno de conexão.
Não sei se esse tempo de olhar nos olhos e nos dirigir diretamente às pessoas já passou, então, para não ficar fora de moda, aproveito para divulgar para vocês o meu arroba @lucianacostacom.