A criatividade é a mola propulsora e indicador de sucesso de marcas e estilistas no mundo da moda. Felizmente, nos últimos anos, crescem exemplos de como esta mesma habilidade está sendo utilizada para repensar as formas de consumo e adequar este mercado à realidade de um mundo finito, em que ganha espaço o consumo consciente e a economia circular.
Pascale Mussard – Petit H
“No futuro, o maior problema talvez não seja somente a rarefação dos objetos, mas também a impossibilidade de jogar fora todo e qualquer material”
Esta frase foi proferida em uma conferência em que participava a herdeira da 4ª geração da família Hermès, a francesa Pascale Mussard. Impactada por esta verdade, ela criou a Petit h, marca que ressignifica aparas e sobras dos produtos da marca Hermes criando diferentes objetos de design e acessórios de moda. Além de ter se tornado um laboratório de experimentação para a própria Hermès, a Petit h consolida o legado de uma marca já centenária, mas que não hesitou em se reinventar e olhar para o futuro com outras possibilidades.
Ainda na Europa, na Semana de Design de Milão em 2018, uma instalação na região da Stazione Centrale chamou a atenção. Um portal com um amontoado de roupas era o convite à entrada para a exposição “Waste No More” onde eram expostos novos tecidos produzidos a partir de roupas recompradas de seus clientes pela marca Eileen Fisher. Através de uma técnica sustentável, a marca transformou o que seria descarte em novos tecidos. Casacos, bolsas e peças de decoração são produzidos com o que iria para o lixo e o resultado é único e belíssimo.
Novos materiais
Mas este processo de reinvenção pode extrapolar a reutilização de produtos tradicionais do mundo da moda. No Brasil, câmaras de pneus e tecidos de náilon de guarda-chuva foram as matérias primas para a Revoada criar acessórios como bolsas, carteiras, cadernetas, mochilas. A empresa inovou no modelo de negócios e vende os produtos antes de serem produzidos, evitando o desperdício e promovendo sua sustentabilidade econômica. Os lotes especiais para venda são disponibilizados periodicamente e novos “vuelistas”, como eles chamam seus clientes, aderem cada vez mais a esta ideia.
A indústria automotiva parece estar inspirando designers e empreendedores. Em 2016, a Cooperárvore foi criada para beneficiar aparas de cinto de segurança e tecido automotivo da fábrica da Fiat em MG. O negócio surgiu dentro de uma incubadora social do programa Árvore da Vida, promovido pela empresa, e hoje já soma mais de 36 toneladas de material reaproveitado, além de gerar renda para mulheres do Jardim Teresópolis, região do entorno da fábrica, no município de Betim/MG.
Renda e inserção social
O reaproveitamento de materiais é um aspecto importante da sustentabilidade, mas outras marcas têm se diferenciado pelo modelo de produção que promove inserção profissional, social e econômica.
A produção artesanal de tricôs da Doiselles é feita por homens. Isto já é surpreendente porque quebra a tradição de um ofício mais dedicado às mulheres, mas a grande diferença é que todos eles são detentos do sistema prisional. Além de gerar renda, o trabalho permite redução de pena e promove a reinserção profissional.
A recente criada e já premiada Libertees trabalha com a outra população carcerária, as mulheres. Elas são envolvidas do processo criativo à produção das peças. Criatividade e renda que promovem a inclusão social.
Bons exemplos de como a criatividade na indústria da moda tem contribuído para um mundo mais sustentável.
Texto publicado originalmente no Linkedin em 06 de julho de 2018.
Destaque: Photo by Priscilla Du Preez on Unsplas