O QUE APRENDI SOBRE LIDERANÇA NA MINHA GRAVIDEZ

Fiquei grávida em Dezembro de 2015, quando começaram a noticiar o aumento de casos de microcefalia em bebês e a suspeita de associação ao zica vírus. Iniciava o verão no Brasil e o prognóstico era péssimo pois, neste período, o mosquito transmissor, Aedes aegypti, se multiplica.

A região Nordeste concentrava o maior número de casos de zica e microcefalia, especialmente em Pernambuco, e eu era responsável pela gestão de projetos sociais para comunidades do entorno da planta da empresa naquele Estado.

A incidência da doença em recém nascidos, filhos de mães que tiveram zica, passou a dominar os noticiários. Cada dia um novo caso, novas imagens de crianças que nasceram com a doença, mães desamparadas pelas políticas públicas. Um frasco do repelente indicado para grávidas ultrapassava 100 reais à época e muitas mulheres não podiam arcar com este custo.

Aquelas que puderam planejar, adiaram a gravidez, outras mais abastadas deixavam o país temporariamente. E a nós, grávidas que estávamos aqui, restou o pânico.

Neste artigo, vou contar um pouco sobre minha experiência com meu líder imediato, o que aprendi sobre liderança e algumas medidas que tomei para conseguir sobreviver a este período tão difícil e conseguir curtir este momento especial de gestação da minha filha.

EMPATIA E INCLUSÃO

Esperei 3 meses para contar aos colegas do trabalho sobre a gravidez e não houve demandas de viagens neste período. Quando fui conversar com o meu diretor à época, antes mesmo que eu explicasse que estaria impedida de viajar a trabalho, especialmente para o NE, ele já colocou o tema na mesa. 

Organizamos toda a estrutura para meu trabalho remoto, o que ainda não estava implementado de forma abrangente na companhia, e segui assim até alguns meses depois do retorno da licença maternidade. Não podia ser diferente, mas, infelizmente, vemos casos todos os dias de que não é óbvio o suporte a grávidas pelos gestores e muitas mulheres que enfrentam preconceito quando retornam da licença maternidade, resultando, inclusive, em demissão.

Essa segurança e suporte da minha liderança foram fundamentais. A empresa ainda não tinha um programa de Diversidade e Inclusão, as salas de lactação vieram alguns anos depois, mas meu líder imediato, pai recente do quinto filho, representou o papel institucional, mesmo que ainda não institucionalizado. Reflexo de um líder empático, inclusivo e humano.

AUTORIDADE E LIDERANÇA

Outra medida importante que tomei foi a decisão de não assistir mais televisão, não procurar no google nada relacionado à microcefalia ou orientações sobre outros temas relacionados à gravidez. Elegi minha médica como a autoridade no assunto que me guiaria pelos 9 meses de gestação da minha filha.

Mesmo sem ter pensado sobre isso à época, ela foi uma importante liderança para mim.

Era somente com ela que tirava minhas dúvidas e segui todas as prescrições quando fui diagnosticada com diabetes gestacional ou quando descobri o hipotiroidismo nos primeiros meses de gestação, um fator de risco para aborto.

Ela foi acessível, criamos um vínculo de confiança e um ambiente psicologicamente seguro em meio a uma importante crise que afetava diretamente minha condição.

Em um recente treinamento sobre segurança psicológica no ambiente de trabalho (tema bem importante neste período de pandemia), um dos tópicos passava pela liderança como  importante ator para promover este ambiente nas empresas.

POLÍTICAS PÚBLICAS

No caso da microcefalia e, agora, na pandemia, escancara-se a necessidade de um bom líder e políticas fortes para proteger a população ou os empregados.

Seja no ambiente empresarial ou no governo, uma liderança empática, competente e atenta às necessidades das pessoas pode ser decisiva para o sucesso de uma gestão de crise e salvaguarda de milhões de vidas que podem ser afetadas por um mosquito, um vírus ou qualquer outro fator que signifique um risco à vida, à saúde ou à segurança das pessoas.

E o meu líder lá de 2015? Hoje é Prefeito em uma cidade em Minas Gerais, transportando sua empatia para com as pessoas na construção de políticas públicas fortes, que refletem os desejos e necessidades da população.

Estamos precisando de bons exemplos nesta área e tive o privilégio de aprender um pouco com ele.

Foto de Miguel Á. Padriñán no Pexels