Minha colega de trabalho chegou atrasada na festa da escola da filha em homenagem às mães.
Ela foi a última a chegar e, em resposta à ironia de uma outra mãe que a recebeu falando em alto e bom som que, finalmente, a apresentação poderia começar e que todos só a esperavam, as outras famílias a aplaudiram.
A aplaudiram porque ela veio. A aplaudiram porque seu uniforme estava por baixo do seu vestido preferido, que foi colocado ali por cima, ainda no avião.
A receberam de forma calorosa porque sua bota ainda estava suja de andar em terrenos com poeira e lama para cuidar de famílias, comunidades inteiras, uma equipe gigante e cumprir sua missão.
– “Poderia ao menos ter limpado a bota com um lenço umedecido”. Ri chorando a menina que abraça feliz a sua mãe que, sim, estava ali e chegou causando.
As cortinas que se abrem para a mãe pontual são as mesmas para aquela que viajou quilômetros, pegou voo atrasado, congestionamento e, ufa, conseguiu chegar. Minha colega sabe que os protocolos não importam. Que as convenções sociais não devem ditar o melhor para a relação com a sua filha e que não importa como – Estou aqui por você!
Sua saudade da rotina que não pode compartilhar com sua pequena, se reverte em lágrimas que agradecem o privilégio de tê-la ao seu lado. De ter sido escolhida para cuidar de um anjo na terra e se dedicar, todos os dias, para um amor incondicional.
Essa passagem do tempo que contamos em minutos, horas, dias, semanas, meses e anos não são nada para o amor infinito de uma mãe. Ele não cabe nessas medidas e perpassa quaisquer barreiras físicas. A distância é relativa para este amor.
Nesse coração cabe todo o desejo de bem para aquela filha, cabe colo, prontidão nos momentos difíceis. Alegria e sorriso para compartilhar as conquistas, rigidez para ajudar no amadurecimento para a vida. Cabe perdão, paciência, aceitação, afeto, gentileza.
Não sei detalhes sobre o fim do espetáculo daquele dia, mas tenho certeza que os novos aplausos para a performance das crianças (incluindo o da mãe irônica), tocou um coração de forma diferente porque ela, no fundo, sabe que é uma boa mãe.
E no dia seguinte, ainda curtindo um colinho, a menina dizia a todos, orgulhosa, que a escola inteira parou para esperar sua mãe chegar.
Foto de Camila Lima – Pexels