SEM MANUAL E SEM GUIA

Eu pari uma menina. Se minhas aulas de biologia do ensino médio estavam certas, minha contribuição para definição do sexo do bebê foi nula, mas minha intuição dizia, desde minha juventude, que ela viria! Eu sabia que seria mãe de uma menina.

Acho que a intuição era orientada pela minha familiaridade em cuidar de meninas. Fui cercada de bebês do sexo feminino na minha adolescência e juventude: bonecas sempre meninas, sobrinhas, meninas e suas mães que foram acolhidas na casa dos meus pais. Assim, eu me sentia apta e familiarizada com os cuidados que seriam necessários.

Mas, aproximando a concretização da maternidade, e depois de confirmada minha intuição, comecei a pensar muito na minha contribuição para a jornada da minha filha em um mundo que pensa o lugar das pessoas a partir do gênero e tem colocado muitos obstáculos, ainda, às mulheres.

Decidi, de cara, abandonar o manual de “Como Criar Filhas Boazinhas” que herdei da minha criação. O mundo não é generoso com os bonzinhos… Além disso, fui presenteada com uma menina forte, com muita personalidade e seria um contrasenso envidar esforços para moldá-la a uma expectativa já ultrapassada do papel da mulher na sociedade e à qual eu não acredito, absolutamente.

Então, me coloquei diante de uma pergunta: Como potencializar todas as características da minha filha como recursos para enfrentar esse presente e futuro cheio de adversidades para nós, mulheres?

Antes da Helena nascer, li o livro “Como Educar Crianças Feministas”, da Chimamanda Adichie. É uma carta que ela escreve a uma amiga que tinha lhe pedido conselhos em como criar a filha como uma feminista. Antes mesmo de dar os conselhos, ela alerta que a amiga deve sempre confiar nos instintos, mais que em qualquer outra coisa, pois o amor pela filha é que servirá de guia.

Achei um bom prefácio, pois talvez a nossa intuição seja mesmo a melhor mentora para criarmos um serzinho que chega sem manual de instrução.

Sem manual e sem guia, eu resolvi olhar para quem me inspira e tentar absorver lições que possam me ajudar nesta tarefa de guiar a minha filha no seu caminho de desenvolvimento e aprendizado. E eu sou cercada de mulheres fortes, no trabalho, na minha família e algumas que estão distantes, mas servem de inspiração.

Parte deste texto, inclusive, foi escrito em uma carta que enviei a uma colega por ocasião do seu aniversário e que é uma destas mulheres admiráveis, que carrega uma personalidade forte e me inspira todos os dias.

E hoje, no Dia Internacional da Mulher, mesmo ainda sem ter todas as respostas do que devo fazer para dar espaço para minha filha poder ser quem ela é, reforço meu compromisso com esta busca que é uma afirmação de liberdade, igualdade e amor incondicional.

E tenho tentado não ter medo das minhas falhas, pois se é dado aos pais uma responsabilidade importante para essa jornada na vida dos filhos, também são dados a cada um de nós recursos para nos tornarmos a melhor versão de nós mesmos. 

Então,voa, filha! A mamãe está aqui para vê-la feliz!

Foto de Fröken Fokus no Pexels